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Desde o final do ano passado a banda veio deixando os fãs inteirados sobre os processos que envolviam a produção do disco, com pequenas amostras, fotos e vídeos de bastidores, novidades sobre a HQ que será lançada juntamente com o CD (trazendo o conceito por trás das letras) e uma infinidade de pequenos spoilers que deixavam nos fãs com uma curiosidade aguçadíssima e uma ânsia sem tamanho por poder ouvir o material novo. E a espera valeu demais a pena.A primeira faixa é um prelúdio chamado "Why Not Me", uma narração misteriosa da personagem principal da história. Os sons por trás dela criam um clima obscuro e tenso, que abre o disco de vez. Logo em seguida começa "Shot in the Dark"; não haveria maneira melhor de abrir o disco, uma música grandiosa, com os tradicionais arranjos sinfônicos, mesclados com uma veia heavy mais saliente, moderna e ao mesmo tempo com ares oitentistas. Uma peça única, criativa, original e que é só o abre-alas do que ainda está por vir.
A terceira faixa faz o disco valer por inteiro. "In the Middle of the Night" é ainda mais portentosa, com riffs cortantes e acelerados, um andamento empolgante, mais arranjos sinfônicos grandiosos, um refrão de arrepiar e uma interpretação impecável da vocalista Sharon den Adel. Em futuros shows, com certeza há de ser o ápice de empolgação do público, sensacional!
"Faster" já era conhecida depois da divulgação do primeiro vídeo/curta metragem dos três que serão lançados para promover “The Unforgiving”. Tem uma cara bem anos oitenta, de levada cadenciada mas com bastante peso e mais um ótimo refrão. Nota positiva pela boa aparição do baixo de Jeroen Van Veen; outro belo destaque. Os saudosistas da sonoridade do disco “Mother Earth” (2000) ficaram deliciados com a bela balada "Fire and Ice", construída em cima de uma melodia de piano melancólica e intimista, mas que cresce e se torna um som forte e intenso, esbanjando um feeling tocante. Lindíssima!
Logo depois chega mais um petardo: "Iron" é uma das mais pesadas do disco, com bons riffs e atuação intensa do novo baterista Mike Coolen. Uma música coesa e compactada, com a letra construida inteligentemente, transmitindo uma energia espetacular. Sharon mais uma vez dá show. A próxima faixa foi a primeira a ser divulgada, "Where is the Edge". Tem bem a cara do trabalho anterior, “The Heart of Everythig”(2007), mas sabe ter sua personalidade. É mais lenta, mas não menos bem trabalhada e com ares de grandiosos. Na comparação com as demais faixas pode parecer a mais fraca do disco, mas eu não usaria essas palavras, só diria que é menos perfeita.
"Sinéad" é uma pérola. Consegue unir de uma forma espetacular peso com ritmo e melodia, chegando até certo ponto a ser dançante! Tem mais generosas doses de orquestra, de atuação preciosa de todos os músicos e com Sharon provando que os anos (e os filhos) só fizeram bem a ela. Em seguida chega mais uma belíssima balada; esta se chama "Lost", com a vocalista mostrando sua versatilidade e beleza da voz, com backing vocals discretos mas marcantes, mais orquestramentos bem colocados e um feeling que consegue mexer de verdade com o ouvinte.
"Murder" já começa prometendo com suas orquestrações, que abrem caminho para uma interpretação mais sombria de Sharon, teatral e misteriosa. Logo a música se agiganta, num refrão imponente, com a voz de Sharon sendo mais grave, com o baixo e a bateria dando uma sólida base para grandes riff's de guitarra que duelam com os intrumentos de orquestra. Fabulosa. A faixa seguinte tem um quê mais moderno, com andamento cavalgante, totalmente Heavy Metal; esta "A Demon's Fate" segue a tradição e tem um refrão espetacular, empolgante e repleto de força e energia. A bateria mais uma vez é muito presente, as guitarras são mais dicretas mas sempre atuantes e o baixo ali dando o apoio para as aventuras altas e sem medo do resto da banda.
O disco se encerra de forma sublime com a power-balada "Stairway to the Skies". Feeling, leveza, peso, grandiosidade... tudo aglutinado numa química perfeita e irretocável. Não é preciso louvar ainda mais Sharon, mas sua interpretação nesta música é ainda mais especial, conduzindo o ouvinte ao final da história deixando-o emocionado, relembrando todas as fortes sensações que teve no decorrer do disco. Um encerramento mais que perfeito!
Decididamente a banda abandonou as características que foram marcantes no disco de estreia, “Enter”, do distante ano de 1997. Pessoalmente não vejo isso como problema, já que pelo menos a mim aquele ar gothic/doom arrastado demais me dá sono. Muitos fãs mais extremistas afirmam que a banda se vendeu ao longo dos anos, tornando-se uma banda comercial. Acho um exagero absurdo dizer isso; o que de fato aconteceu foi uma amadurecimento natural, corriqueiro em todas as bandas grandes que conseguiram se manter em alta ao longo da carreira.
Mas mesmo com esse amadurecimento o WITHIN TEMPATION nunca deixou de lado as características que o consagraram e o botaram no hall das maiores bandas do metal sinfônico, e isso fica absolutamente claro neste maravilhoso “The Unforgiving”. Temos as orquestrações épicas, melodias bem construídas, a voz linda e cristalina da inigualável Sharon den Adel, peso e beleza alquimicamente unidos, guitarras não geniais mas muito competentes, uma cozinha de respeito e o clima único que essa grande banda sabe dar às suas composições. Tudo isso aliado com a inventividade e originalidade de novas ideias, resultando num material com muita identidade própria, mas que é intrinsecamente ligado ao passado. Essa é a receita para fazer um grande disco que se tornará clássico.

Texto Original  Whiplash